O SACERDÓCIO DE CRISTO
Antes do sacerdócio levita, a Bíblia menciona Jetro, sogro de Moisés, como “sacerdote de Midiã” ( x 2,16; 18.1), apesar de não se saber muito a seu respeito, o contexto parece tratar de um sacerdote do Deus de Israel, pois Moisés sacrificou e ofereceu holocausto junto com ele ( x 18.12). Os sacerdotes mencionados em xodo 19.22, 24 não eram levitas, porque a ordem de Arão ainda não havia sido fundada, isso só aconteceu posteriormente ( x 28.1, 41), mas o Comentário Bíblico Beacon afirma que os primogênitos exerciam as funções sacerdotais. A menção dos jovens que sacrificaram ao Senhor, em xodo 24.5, parece indicar uma escolha exclusiva de Moisés só para essa finalidade.
Os sacerdotes segundo a ordem de Arão eram limitados aos descendentes de Eleazar e Itamar, ambos filhos de Arão (Nm 3.3,4; 1 Cr 24.2), visto que Nadabe e Abiú morreram fulminados por trazerem “fogo estranho perante a face do SENHOR” (Lv 10.1, 2). Mesmo para os filhos de Eleazar e Abiú havia requisitos, exigiam-se santidade e perfeição física, como condição para o sacerdócio, conforme o capítulo 21 de Levítico, assim, não bastava ser membro da família. Apesar da incapacidade do sistema arônico, no tocante à salvação, o sistema sacrificial era sombra da obra salvadora de Cristo, no Calvário (Hb 9.9; 10.1).
A ordem de Melquisedeque, representada por Cristo, é sui generis por várias razões. Trata-se de um sacerdócio perpétuo: “mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo” (Hb 7.24). Jesus é antes do sacerdócio arônico e pertence a uma ordem que não depende de genealogia, e a ausência da genealogia de Melquisedeque serve para tipificar o sacerdócio eterno de Cristo: “mas, sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre” (Hb 7.3). A palavra grega para “perpétuo”, nesse versículo, é (aparabatos), “imutável, imperecível, inviolável, intransferível”, e só aparece aqui, em todo o Novo Testamento: “Deus pôs a Cristo neste sacerdócio, e ninguém mais pode introduzir-se nele” (ROBERTSON, tomo 5, 1989, p. 419).
O sistema levita era repetido, os sacerdotes arônicos ofereciam sacrifícios a cada dia para tirar os pecados, um animal era sacrificado em cada ritual, sendo esse sacrifício ineficaz para a salvação, mas Jesus, “havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus” (Hb 10.11, 12), o Senhor Jesus ofereceu um sacrifício perfeito. A vítima do sacrifício foi ele mesmo: “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) e não um animal, pois o sangue de animais não era suficiente para pagar tão alto preço, por isso Jesus submeteu-se a si mesmo com o sacrifício, expiação como seu próprio sangue (Hb 9.11-14; 1 Jo 2.1,2). Na sua morte “o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mt 27.51). Os demais evangelhos sinóticos registraram o fenômeno do véu rasgado (Mc 15.38; Lc 23.45).
Trata-se de um sacrifício perfeito porque o próprio Jesus foi a oblação pelos nossos pecados, seu sacrifício foi único e resolveu para sempre o problema do pecado e entrou no santuário celeste, não desta criação: “porém no mesmo céu, para agora comparecer, por nós, perante a face de Deus” (Hb 9.24); “Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre’ (Hb 7.28).
O nosso sumo sacerdote preenche todos os requisitos como Cordeiro Imaculado, Sacerdos Impeccabilis:
Santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente, por seus próprios pecados e, depois, pelos do povo; porque isso fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo. (Hb 7.26, 27)
A santidade de Jesus é única e real, absoluta e perfeita, não se trata, pois, de uma santidade cerimonial, como muitas vezes a lei exigia dos sacerdotes levitas. Realizou um único sacrifício e resolveu para sempre o problema do pecado, seu sacerdócio é perfeito, por isso pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus” (Hb 7.25).
Uma vez envelhecido o sacerdócio levita e removido o sistema arônico, Jesus torna-se o Sumo Sacerdote, Mediador e Intercessor em favor do pecador diante de Deus-Pai. O Novo Testamento apresenta todos os cristãos como sacerdotes e isso em virtude na nossa relação íntima com Deus em Cristo: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz’ (1 Pe 2.9). Isso tem raízes no Antigo Testamento, pois Deus disse o mesmo com relação a Israel pouco antes do Concerto do Sinai, Deus prometeu fazer de Israel: “propriedade peculiar dentre todos os povos; … reino sacerdotal e povo santo” ( x 19.5, 6). Porém, o sacerdócio dos crentes não está limitado a uma família, casta ou grupo especial na igreja, é um sacerdócio universal (Ap 1.6; 5.10).
Assim, como havia um sumo sacerdote sobre o sacerdócio em Israel, da mesma forma, Cristo é o Sumo Sacerdote sobre a Igreja.
FONTE: Ezequias Soares – Cristologia, A Doutrina de Jesus Cristo – HAGNOS.