NÃO É VERDADE, NEM É MENTIRA
(Prof. Wilson Levi)
Já ouvi muita gente explicar que "mentira é tudo aquilo que não é verdade". O engraçado é que essa explicação por si só é uma mentira. Você sabe o porquê? É que essa explicação não considera a existência das artes.
Arte é algo que faz parte originalmente de nós,[1] e nos permite expressar livremente nossos sentimentos, mesmo que a gente precise extrapolar os limites da realidade, explorando descrições que não sejam a verdade factual, sem que necessariamente se torne mentira. É isso que confunde muita gente.
O próprio Deus dá exemplo dessa liberdade quando ordena que algumas romãs da veste sacerdotal fossem confeccionadas da cor azul (Êx 28.33). Detalhe: todo mundo sabe que não existem romãs azuis na natureza. Isso chama-se liberdade artística e não mentira. Francis Schaeffer diz que, neste texto de Êxodo 28.33, a ideia é que "há liberdade para se fazer algo a partir da natureza, que seja distinto dela e que possa ser levado à presença de Deus".[2]
É por causa dessa liberdade criativa das artes que Russell Champlin afirma o seguinte: "as histórias de ficção, escritas ou filmadas, embora não correspondam à realidade, não são mentiras, visto que não se propõem a narrar fatos, mas tão-somente simbolizam fatos e ideias".[3] Ou seja, são apenas símbolos e representações artísticas.
As parábolas que Jesus contava, por exemplo, eram ilustrações imaginárias e fictícias que realçavam verdades reais.
OUTROS EXEMPLOS NA BÍBLIA
“Rios de águas correm dos meus olhos...” (Sl 119.136a)
HIPÉRBOLE é a figura de linguagem que indica exageros. Os escritores da bíblia usaram em alguns momentos esse recurso artístico da línguagem para realçar ideias e sentimentos. Mesmo que seja impossível rios sairem dos olhos, o texto não é mentiroso.
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“... Elias começou a caçoar deles. Ele dizia:
- Orem mais alto [...]. Pode ser que ele [Baal] esteja meditando ou que tenha ido ao banheiro...” (1 Rs 18. 27 NTLH)
SÁTIRA é um recurso artístico que visa ridicularizar algo ou alguém. Elias não acreditava que Baal estivesse mesmo num banheiro fazendo suas necessidades; mesmo assim, falou como se acreditasse que aquilo fosse possível apenas para zombar. Elias não mentiu; apenas realçou a incoerência da idolatria através de sua fala satírica.
Notas:
[1] O pastor Claudionor de Andrade, em seu livro “O começo de todas as coisas” (2015, p.39), diz que Adão fez o primeiro poema ao ver Eva pela primeira vez (Gn 2.23).
[2] SCHAEFFER, Francis A. A arte e a bíblia. Viçosa, MG: Ultimato, 2010, p.23.
[3] CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. São Paulo: Hagnos, v.4, 2006, p.228.
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